Vida na Palavra

Reflexões bíblicas para uma fé vivida no cotidiano, com base nas Escrituras.

Ensina-nos a contar os nossos dias

O início de um novo ano não representa apenas a passagem do tempo, mas um convite à reflexão. Ele nos leva a repensar como temos vivido, quais escolhas fizemos e quais posturas precisam ser revistas. A Palavra de Deus nos conduz a reconhecer que os dias são limitados e que essa limitação não é um problema a ser resolvido, mas uma verdade a ser assumida. À luz dessa compreensão, ecoa a oração: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” Salmos 90:12. Contar os dias é admitir que a vida não está sob nosso domínio, mas sob a soberania de Deus, e que cada tempo vivido nos chama à responsabilidade.

Essa oração nos conduz a um ponto central. O pedido expresso no salmo não é por mais tempo, mas por sabedoria. A Escritura esclarece que essa sabedoria não nasce da simples experiência acumulada, pois “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” Provérbios 9:10. Isso aponta para uma maturidade que começa no reconhecimento de Deus como referência para a vida. O passar dos anos, por si só, não garante discernimento. A verdadeira sabedoria se forma quando o coração se dispõe a ser ensinado por Deus. Sem essa instrução, o tempo pode avançar sem produzir mudanças reais.

Na compreensão bíblica, o coração é o centro das decisões. Falar em coração sábio é falar de escolhas alinhadas à vontade de Deus. Contar os dias, nesse sentido, é avaliar como temos vivido e assumir a responsabilidade de mudar o que precisa ser mudado. É viver de forma coerente com aquilo que professamos crer, utilizando o tempo não apenas para cumprir rotinas, mas para testemunhar, experimentar a presença de Deus e permitir que outros sejam alcançados por meio da nossa caminhada.

Esse exercício de avaliação inevitavelmente nos leva a olhar para o caminho já percorrido. Um novo ciclo não começa desvinculado do anterior. Ele se constrói a partir de histórias vividas, inclusive aquelas marcadas por resultados que, aos nossos olhos, não corresponderam às expectativas. Nem toda espera foi compreendida no momento certo. Ainda assim, os processos atravessados trouxeram experiências e aprendizados que nos aproximaram, muitas vezes de forma silenciosa, de onde Deus deseja que estejamos. Aquilo que para nós foi inesperado nunca esteve fora do conhecimento de Deus.

Diante dessa perspectiva, compreendemos que a fé bíblica não se limita a uma convicção interior, mas reconhece a impossibilidade humana, confia plenamente no poder de Deus e nos responsabiliza a viver de acordo com aquilo que professamos crer. Há caminhos que não escolhemos e circunstâncias que não controlamos, mas que revelam dependência, ajustam prioridades e formam o caráter. A soberania de Deus não se mede pela nossa capacidade de entender os acontecimentos, mas pela confiança de que Ele conduz cada etapa, inclusive aquelas que não compreendemos no momento em que acontecem.

Por isso, entrar em um novo ano exige mais do que expectativa. Exige revisão de postura. O que precisa ser deixado. O que precisa ser aprendido. O que precisa ser vivido de forma diferente. A fé bíblica nos chama a agir com responsabilidade, conscientes de que Deus permanece no controle e de que nossas escolhas devem refletir essa confiança.

Que o novo ano seja vivido com discernimento. Menos repetição automática e mais consciência. Menos resistência à mudança e mais disposição para obedecer. Contar os dias é escolher viver com propósito diante de Deus, permitindo que cada novo ciclo seja também um espaço real de transformação.

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